sábado, 14 de janeiro de 2012

PINK FLOYD - ANIMALS

  O ano de 1977 marcou o fim do “dinossáurico” e ultrapassado rock progressivo. E o anúncio de uma nova revolução sonora, o punk rock.
As longas suítes de 20 minutos cediam lugar ao poder sonoro dos três acordes. Logo, The Clash era mais relevante que o Genesis.
O que foi dito até agora é correto até certo ponto, pois em 1977 o Pink Floyd lança Animals, um de seus mais poderosos trabalhos.
É inegável que a sonoridade de Animals é mais crua e direta do que qualquer trabalho produzido pela banda até então, incluindo as trilhas sonoras More e Obscured By Clouds, e principalmente bem diferente de seu antecessor Wish You Where Here.
Isso não se deve apenas à influência do punk, mas também às qualidades acústicas do Britannia Row, comprado pela banda na época.
O pessoal do Pink Floyd aproveitou os três andares e montou um estúdio que ia de encontro às suas necessidades. Havia a possibilidade dos membros operarem a mesa de som e equipamentos sem a supervisão de um engenheiro de som. Apesar de satisfeitos com Abbey Road, as sessões no lendário estúdio eram mais longas e conseqüentemente mais caras. Ter um espaço próprio significa economia e liberdade de tempo, sem as pressões habituais com prazos. A área escolhida para a operação da mesa e tapes não possuía uma janela, dando um aspecto claustrofóbico ao local. Roger Waters iria mais tarde se referir ao Britannia Row dessa maneira: “ O lugar parecia mais uma porra de uma prisão.”
Ainda com todas essas vantagens a presença de um engenheiro de som era necessária, e Brian Humphries assume o posto.
Musicalmente, Animals é o trabalho mais direto da banda. Inspirado pelo livro “A Revolução dos Bichos” ,de George Orwell, Waters não economiza críticas às forças armadas “Dogs”, aos poderes políticos “Pigs (Three Different Ones)”e às massas de manobra “Sheep”.
Algumas partes de Animals já existiam até mesmo antes do lançamento de Whish You Where Here. É o caso de Dogs que já era executada ao vivo em 1974 sob o título de “Gotta Be Crazy”. O mesmo para alguns elementos de Sheep que recebia o título de “Raving and Drooling”.
Para os shows ao vivo a banda convida o guitarrista Snowy White que já havia trabalhado com Peter Green do Fleetwood Mac, para tocar as partes de overdubs que Gilmour criara em estúdio. Durante a turnê, Snowy White assombrava a audiência toda noite tocando o contra baixo de abertura de Sheep e gerando dúvidas na mesma que se perguntava quem era esse “novo membro do Pink Floyd”.
Porém, Snowy White chega ainda durante as gravações de Animals e acaba tendo uma recepção não muito feliz. O engenheiro de som Brian Humphries faz uma pausa para um merecido café. Nick Mason e Roger Waters então assumem o trabalho de edição na mesa de som, apagando acidentalmente um solo inteiro do Gilmour.. Nesse momento White vira para Gilmour e diz: “ Se você pudesse não estaria aqui nesse momento, não é mesmo?”
Roger ouviu e ficou obviamente furioso e rebateu de pronto: “ Uma vez que você já esteja aqui, você deveria tocar alguma coisa.”. Apesar desse pequeno mal-estar, a produção de Animals fluiu mais facilmente que Dark Side e Wish You Where Here. Animals é o disco mais urgente da banda, porém não isentou o grupo de receber críticas expressas de forma gentil e educada em uma camiseta com os dizeres “Eu Odeio Pink Floyd, usado pelo estimado Johnny Rotten.
Em dezembro de 1976, as gravações e mixagens estavam completamente prontas. Chegava o momento de se concentrar no trabalho da capa. A Hipgnosis chegou a apresentar três idéias que foram reprovadas por não ter o apelo correto. Então surge Roger Waters com a idéia do porco inflável. A capa que exibe um enorme porco inflável é fotografada na Battersea Power Station e é uma das mais carismáticas e interessantes da história do rock.
O incidente do objeto inflável ter escapado pelos céus é verdadeiro e não boato. Quando o porco resolveu dar um passeio pelos céus, planos de emergência de vôos foram acionados, aeroportos e aviões foram avisados sobre um porco voador, e uma equipe de advogados já se preparava para muito trabalho e dor de cabeça, principalmente o advogado da banda Bernard Sheridan. Felizmente nenhum incidente foi registrado e ninguém se machucou, e o objeto pousou na região de Kent e foi resgatado por um fazendeiro.
A turnê de Animals foi turbulenta e difícil, gerando inspiração para o próximo álbum, The Wall. Com uma audiência mais desconectada e distante da proposta da banda, o jeito foi construir um muro como uma declaração de distanciamento entre audiência e banda. Mas isso ocorreu em uma situação de puro estresse na turnê de Animals em 1977, no Olympic Stadium em Montreal, onde Roger cospe no rosto de um rapaz mais exaltado. Fogos de artifício irritam Waters como é mostrado por esse áudio no youtube (procure Roger Gets Mad At The Audience).De qualquer forma, Animals é uma declaração de criatividade e mudança de direcionamento e fórmula de trabalho. Um disco que também não fica preso ao fantasma de Syd, Barret e que, dessa forma, possui vida própria. Se The Wall é um dos discos mais populares da banda, isso foi porque Animals, de maneira esquisita, abriu espaço para isso. Animals é um clássico, obrigatório para quem é colecionador e apreciador de Classic Rock.

Por Píer Carllo Braghirolli - pcl-brag@uol.com.br- (Obrigado Pier :) )

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