Quando
inauguramos, em 1996, tínhamos uma banda, eu, meu sócio André Luiz e nosso
amigo e ex-sócio Fabio, andávamos pela Galeria do Rock e só achávamos Sepultura
e Angra, de vez em quando um Ratos de
Porão e um Viper, e
pronto. Onde estavam os CDs do monte de bandas que víamos em alguns shows
underground? E os CDs das bandas tradicionais como Stress, Dorsal Atlântica,
etc...? Estes, e outros, simplesmente não achávamos... “Ah, se quiser, anota aí o nome, vou ver se
consigo, passa aí semana que vem...” e, claro que o cara nem ia atrás dos CDs,
voltávamos lá como uns bobos acreditando que o cara procuraria. As exceções
como a Baratos Afins, sempre honradas como exceções, eram um oásis e, mas nem
tudo tinha lá, ninguém tem tudo, nunca, e esta é uma das graças em se
colecionar algo... Então abrimos a loja, entre outros objetivos, para montar
também um acervo de bandas nacionais independentes, para o público com o nosso
perfil.
Logo
nas primeiras semanas colocamos dois cartazes, um deles “temos mais de 30 Zappa”, e
outro “Trabalhamos com várias bandas nacionais”, a então insípida concorrência
riu, e riu alto, entrando na loja e comentando “hahaha, vocês vieram pra se estabelecer
vendendo Zappa e
banda nacional, hahaha”, só este fato isolado nos deu mais
força ainda para buscarmos nossos objetivos, se eles estavam rindo, então
estávamos no caminho certo...
Temos
vários pontos fortes na montagem de nosso acervo, o nome da loja é Die Hard -
Classic Rock and
Heavy Metal Collectibles, e é o que temos, e nos esforçamos pra
ter, independente da origem da banda ou do produto, tem qualidade: entra pro
acervo, simples. Sempre novos e originais, sempre com garantia e segurança, e
com o serviço Die Hard (agilidade, segurança, compromisso, etc..) que não é
mais que obrigação e não é o foco aqui. Também não é o foco aqui o preconceito
que temos, como brasileiros, com os nossos artistas, isto vem desde a
colonização, quando o que tinha qualidade era mesmo o importado, por não ter
similar aqui, e depois, com o início da industrialização, quando os importados
ainda tinham mais qualidade. Reza a lenda que os primeiros pregos brasileiros
simplesmente não entravam em nenhuma
madeira, eram moles demais, e essa idéia foi se alastrando também para nossos
produtos culturais, incutido malandramente pelos colonizadores, e fomos virando
também colonizados culturais, estes assuntos cabem em outras dissertações,
acrescentei estas poucas linhas apenas para ilustração.
Obviamente
não foi fácil, começamos a conhecer algumas bandas que entravam e deixavam os
produtos conosco, e mostrávamos pros clientes interessados, que sempre
conheciam outra banda, e assim foi. Músicos e seus fãs entravam, compravam um
clássico, ou um CD de metal ou vertente e, às vezes, um nacional, e assim tem
sido até hoje.
Aos
poucos, fomos ficando conhecidos como a loja que tinha um acervo legal e também
algumas bandas nacionais legais. Fomos procurados pelos agentes da banda Angra
no final dos anos 90 pra trazer a banda pra loja para uma tarde de autógrafos,
até então trazíamos só os gringos, e esta tarde foi um sucesso, fila enorme
durante horas... Quando abrimos o selo Die Hard Records, lançamos um projeto
reunindo as maiores bandas da época, cada uma delas compôs uma música com
exclusividade para uma letra composta por um escritor amigo, e lançamos o
projeto William Shakespeare’s Hamlet, em parceria com profissionais da
área de produção, o que propiciou a captação do áudio num dos melhores estúdios
da época, lançamento que mudou os padrões de qualidade dos CDs produzidos aqui
no Brasil, este projeto não só mostrou que os músicos eram, ao contrário do que
se dizia, unidos, e todos solícitos e inspirados, depois disto lançamos muitas
bandas boas, o que fazemos até hoje também, e trabalhamos com as melhores,
temos todo o acervo, com exclusividades, destas estrelas: Aquiles Priester
e Hangar, Kiko Loureiro, Korzus, entre outras, ultimamente vendemos
muito e esgotamos a prensagem em tempo recorde a banda Maestrick,
promessa de estouro internacional em breve, as bandas Woslom e Hibria
estiveram entre os mais vendidos por semanas, e são só exemplos, claro...
Vendemos
para o mundo todo, e todo dia vendemos bandas nacionais, conseguimos nosso
objetivo, vender bandas boas independente da origem, dos músicos ou do produto,
não somos xenófobos, obviamente, não gostamos apenas das bandas nacionais,
apenas estamos procurando inseri-las no acervo apenas pela qualidade e
originalidade do seu trabalho, e não por serem ou não nacionais, isto é e tem
que ser apenas um detalhe. Abrimos espaço para a qualidade musical, para a
liberdade do cliente, e um ponto para os músicos independentes que não
encontram até hoje facilidade na distribuição de seu matérial.
Como trabalhamos para colecionadores, o suporte físico de qualidade (o CD) é
fundamental, os arquivos digitais, os plays em streaming e este assunto já
chato de CD físico x música digital já foi falado aqui, não só por mim, mas por
outras pessoas mais gabaritadas e sob todos os pontos de vista e, de novo, não
é o caso neste texto, quando dissemos “abrir espaço” é para o produto físico
mesmo, o colecionável.
Quando
entra um cliente perguntando se tem tal CD, seja de qual origem for, sempre
colocamos nossa estrutura à disposição para pesquisar, esta é uma das
deficiências que encontramos na concorrência naquela época, e a solucionamos,
pesquisando de fato e respondendo ao cliente, deixando-o à vontade para ser
apenas avisado ou para encomendar o produto e o reservar, outras deficiências
como a pós-venda, o atendimento com o vendedor sem “bico” ou cara feia, a
possibilidade de se ouvir o som antes de se definir pela compra, etc. também
não vem ao caso neste texto, talvez numa outra oportunidade, mas que ilustra,
ilustra.
Em
tempo, quem riu naquela época, foi varrido pelo tempo, não tem nem graça rir
deles hoje, pois não estão mais por aqui... Se você não ouvir aquela voz
interior, não tratar o cliente como gosta de ser tratado, não oferecendo o que
o cliente quer e procura, o tempo varre mesmo. Quem é nosso cliente sabe de
todo o exposto acima, quem não é percebe logo de cara, deixamos transparecer, e
gostamos de ser testados, isso aquece e nos afia todo dia, gostamos de ser
testados pelos clientes e pela concorrência... Temos muitas bandas nacionais, e
ainda temos bastante Zappa também, claro J
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