Isso não é uma resenha,
não tenho jeito pra isso, é apenas um relato de um período que envolve a mim,
ao meu sócio André Mesquita, à Die Hard Records (por isso publicado aqui) e,
obviamente, à banda VersOver.
VersOver – Hell’s inc
VersOver
é uma banda autêntica, e de verdade, no sentido de que existem para compor,
gravar e se apresentar ao vivo, independente de onde cada um esteja vivendo, e
a distância é enorme, da condição pessoal de cada um, dos problemas da vida, e
do tempo que sempre passa, inexoravelmente. Pode-se não gostar, pode-se ter
ressalvas, mas não se pode acusá-los de terem se vendido pra essa ou aquela
tendência, ou de estarem nessa por qualquer motivo que não seja... a música.
Sei
disso porque, quando eu e meu sócio André Mesquita abrimos a Die Hard, uma das
nossas missões era nos dedicarmos também às bandas nacionais. Nós mesmos
tínhamos uma banda e a sacrificamos pela loja. O André nunca parou de tocar, e
eu nunca mais toquei. E a banda VersOver sempre ativos, são uma força positiva
pro cenário pois estão envolvidos no ensino aos mais jovens, ao incentivo dos
que estão começando, em produções de shows e material gravado, na divulgação de
tudo isso e mais um pouco, participando de outras bandas, fazendo projetos
paralelos, e mais um montão de coisas. Não tem uma semana que eu não saiba de
alguma novidade deles. Mas nossa mídia às vezes é meio distante, ausente mesmo,
entretida com fogos de artifício com outros assuntos que envolvem ego,
visibilidade, dinheiro, e que ninguém lembrará no ano que vem. A banda VersOver
não, faço uma projeção que a grande massa ainda vai descobri-los no futuro, diferente
dos antenados que já sabem disso, ouvindo apenas. De longe querer compará-los,
mas muitas bandas maravilhosas, esse é o termo, que já são história, também
foram e ainda são ignoradas pelos veículos de comunicação, especializados ou
não, mas têm seu espaço garantido no coração e na estante de quem gosta do
estilo. Pra citar apenas duas injustiçadas, Made in Brazil e Patrulha do
Espaço. Se fossem americanos, ingleses ou alemães estariam sendo venerados.
Aqui não, mas nem por isso são amargos, nem por isso trocaram seu estilo ou
nada parecido, estão aí, compondo, gravando e se apresentando ao vivo, pelo
mesmo motivo do VersOver. São autênticos, de verdade...
Bem
no início dos anos 2000 já tínhamos 4 anos de Die Hard, a loja já tinha
decolado, estava se estabelecendo, e resolvermos inaugurar o selo Die Hard
Records. Entre as centenas de bandas que ouvimos na época, escolhemos a
VersOver para ser o nosso primeiro lançamento. “Love Hate and Everyting in
Between” tem o código DHR-001, Die Hard Recors-001. Mais ou menos 15 anos se
passaram. Na mesma época Gustavo Carmo produziu um, pode-se dizer sem pretensão
ou erro, dos melhores álbuns do gênero, Imago Mortis – Vida. Meio inseguro mas
ao mesmo tempo cheio de si. Brilhou. Em seguida aos primeiros lançamentos de nosso
selo, fizemos alguns shows nacionais e internacionais produzidos com
competência e talento pelo meu sócio e irmão André Mesquita, e alguns destes
shows com a VersOver, só a banda, ou com outras bandas e também abrindo pra
grandes nomes internacionais. A performance ao vivo sempre foi vigorosa,
original, impecável...
Hoje
Leandro Moreira segura à altura o contrabaixo. Mauricio Magaldi é uma máquina
nas baquetas desde os primeiros shows que fizemos àquela época e só melhora.
Rodrigo Carmo é vocalmente inspirado e violento, não consigo achar expressão
melhor, e Gustavo Carmo é, no mínimo, o catalizador; talentoso e criativo nas
guitarras, sempre fui seu fã no instrumento. Ele também é mestre nos outros
acertos e minúcias, que é de sua característica, e isso tudo resulta no que
estou tentando definir como UMA BANDA.
House
of Bones, também pela Die Hard Records, veio depois do Projeto Hamlet, e depois
do Tributo à banda portuguesa Tarantula. Adriano Villa criou o ambiente
literário e fez todas as letras. O álbum tem uma qualidade técnica que
sobrevive ao tempo, e um brilho artístico pouco usual. Resultado de um
aprendizado apurado nas técnicas de gravação, experiências em apresentação ao
vivo e aquela necessidade de continuar.
Um
pouco antes de Gustavo Sazes ser catapultado para o mundo e fazer capas e artes
de grandes artistas e bandas internacionais, a banda já pressentiu a qualidade
e o chamou para a capa do EP Built Perspectives, simples e sensacional. Cito a
capa porque meio que reproduz o que se ouve, é um intervalo mesmo.
Live
Perspectives CD/DVD tem a capa divertida, produção internacional, produto de
colecionador, pequena tiragem limitada, pra quem já era fã.
A
banda é fã de um monte de bandas, entre elas, Rush, de onde saiu o próprio
nome, e onde procuraram o artista pra fazer a capa deste Hell’s Inc. , Hugh
Syme. Aliás, como deveria ser, este álbum é o resumo de tudo o que relatei aqui
e muito mais, entre elas, a participação de músicos que já fazem parte da
história da banda, por exemplo Miro (Heaven’s Gate). Produzido por Gustavo
Carmo, agora mestre nisso, esse álbum mostra em tudo a evolução de uma banda
que estava fadada a isso, à sempre crescer e inovar. Gravado, finalizado e
embalado em diversas partes do mundo, nasceu sendo um álbum internacional, até
a edição brasileira que é feita na melhor fábrica do Brasil, sem economia em
nada, como tem que ser, atingindo o estado da arte...
E,
claro, as músicas, sem elas nada faria sentido. Se as músicas do VersOver não
tivessem a qualidade que tem desde o início, não haveria história, capas,
aprendizado, nada disso. Elas estão cada vez melhores e, em Hell’s Inc. isso
está escancarado. Músicas pra se ouvir muitas vezes. Na primeira audição o CD
rolou duas vezes direto, o CD todo; pra redigir este texto mais um pouco, e,
daqui pra frente, sem parar.
Ouvindo
Roger Waters e Mick Jagger só pra citar dois grandes nomes gringos, percebo que
a importância do que está acontecendo no mundo e no país deles está lá em suas
músicas, Mick Jagger é incisivo em England Lost, e Roger Waters, já
característica dele, pacifista, anti ganância, anti fascismo e sempre
protestando veementemente contra políticos podres, contra o terrorismo e a
imbecilidade tomando conta do mundo, nesse álbum novo, Is This The Life You
Realy Want, vocifera contra os trumps e coisas do gênero. Um deleite. E nós?
Salvas honrosas exceções, faltava alguém de “nossas” bandas de metal
gritando que estamos cansados disso tudo que está acontecendo no Brasil, e
mandando-os para o lugar que merecem. E o VersOver aparece fazendo isso. Bem na
semana onde um babaca faz propaganda de chocolate usando o estilo musical menos
comercial que existe, o nosso, e onde outro maluco com a ideia descabida de
censurar isso ou aquilo nos nossos shows, foi bem no meio disso que ouvi esse
álbum e esses desabafos dos quais me orgulho muito como incentivador da banda
desde o berço, e faço das deles as minhas palavras. O que, só por isso, já faz
do álbum, necessário.
Sim,
a banda é de verdade, autêntica e existe, por conhece-los há muito tempo,
ouvindo as músicas parece que estou os assistindo na minha frente. O Rodrigo
então, parece que está falando comigo, contando e conversando contra as
quadrilhas que assaltam o país e a impunidade, violência, desrespeito e
desgoverno. Esses são os verdadeiros artistas, não os que ganham dinheiro
público e ficam falando de bundas e celebridades pra tentar calar a boca do
povo. O verdadeiro artista fala por nós, é a nossa voz. A banda está fazendo o
que lhes cabe, com maturidade, talento, ousadia, criatividade e muita vontade.
Dá pra percebe tudo isso apenas ouvindo esse álbum.
Pode-se
sim não gostar, pode-se ter ressalvas, pode-se quase tudo, mas seria um
equívoco enorme não conhecer a música deles, e um equívoco maior deixar algum
preconceito impedir ao menos uma audição deste álbum, essencial para o nosso
cenário, e daqui pro mundo...
Parabéns,
meninos, os anos só lhes fizeram bem. Muito bem. Sorte e mais sucesso!
(Nessa
foto estou com batera, Mauricio Magaldi, o único que mora em São Paulo, oportunamente
publicarei aqui fotos com Leandro
(convite formalizado hein maninho), e aos outros irmãos versôvicos Gu e
Rodrigo).
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