É uma sacanagem o que a mídia e os desavisados da imprensa
oficial ou não estão tentando fazer com a mídia física, alardeando que ela está
no fim. Às vezes os próprios envolvidos, músicos, inclusive. Não sei se por
irresponsabilidade querendo ver o circo pegar fogo, talvez por vingança maldosa
tendo a pessoa se desfeito de sua coleção achando que o CD fosse acabar e não
acabou, como (fizemos) com os LPs no passado, talvez por que tenha parado de
comprar e quer que o mundo todo pare para que não se sinta sozinho, talvez
porque tenha apostado no fim da mídia física mas, vendo que isso não está
acontecendo ainda insiste pra não se sair mal, mas, muito provavelmente por pura
desinformação, e, talvez ainda, pra ter um pouco da atenção que esse assunto
ainda atrai.
Quem quer o fim da mídia física são as empresas que lucram
com isso, as plataformas de streaming ou do quase finado MP3 (Quem diria, o
vinil revigorado e o MP3 agonizando). Quem lucra com essa desinformação sobre a
mídia física é a imprensa, nanica, especializada ou não e blogueiros
generalizados, de novo, porque esse assunto ainda chama a atenção. Mas chama a
atenção de quem? Se a pessoa já não compra CDs, pela lógica, o interesse sobre
eles deveria não existir também, desconsiderando a morbidez, claro. Devo
concluir que isso chama a atenção de quem compra!
Obviamente que a indústria diminuiu, afinal, quem PRECISAVA
comprar o CD não precisa mais, sem contar que a indústria fonográfica ficou desnorteada,
burra e surda; burra porque passou seu principal produto pras empresas de
informática, que nada tem a ver com música, surda porque simplesmente não
(re)lança seus clássicos ou mesmo alguns novos, principalmente (mas não só)
aqui no Brasil, e (ainda) desnorteada pois ganhava milhões e esbanjava
arrogância, e hoje a realidade é outra. A prova que a fórmula ainda funciona, e
bem, são alguns poucos relançamentos clássicos rapidamente esgotados (Dio,
Cream, etc...), aliás, se esgotaram bem mais rápido do que outros lançamentos
de outros estilos os quais, pela (i)lógica deles, deveriam vender mais e mais
rápido, mas não é o que acontece. As majors estão com funcionários de vendas no
comando, o pessoal artístico já era faz tempo, ou seja, quem manjava mesmo do
negócio foram os primeiros a serem demitidos. Estas são apenas minhas especulações
sobre o encolhimento da indústria fonográfica, não sei se são esses motivos,
mas o cheiro é forte.... A realidade é que encolheu e é assim que é, porém não
acabou e não vai acabar tão cedo, apesar do chororô geral destas empresas, pelo
menos não nas próximas décadas (guarde isso pra me mostrar depois, hehe).
O que eu digo é em razão da minha experiência diária tanto
pessoal (compro discos frequentemente desde 1974) quanto profissional (vendo
discos diariamente desde 1996). Estou cansado de dizer que a Die Hard só
cresceu, hoje vejo que não estamos sozinhos, os pequenos selos brasileiros se
proliferam por todo o país, sempre lançando bandas nacionais e bandas do mundo
todo com uma regularidade invejável, inegável
também o fortalecimento dos catálogos das de médio porte de nosso estilo como Shinigami e Hellion. Se o CD estivesse
morrendo eles não estariam, por heroísmo e sem lucro, nesta velocidade vertiginosa
de lançamentos que mal conseguimos assimilar. Os produtos importados também sempre
estiveram entre nós, e desde quando comecei a comprar discos eram caros e
raros, e continua assim, o preço sobre, o preço desce, às vezes tem, às vezes
não, e nós aqui sempre procurando ter todos e sempre...
O mercado está se adaptando, quem tiver o tino brilhará,
quem ficar chorando, dificilmente terá um destino diferente do que provoca esse
choro.
Outro assunto mas quase o mesmo, em nosso microcosmo aqui,
somos uma loja dentro da Galeria do Rock, só isso, poderíamos estar em qualquer
outro lugar, estamos aqui pois em 1996 não tinha essa discussão, hoje a Galeria
do Rock está sim, diferente, resultado da redefinição do nosso negócio, exposto
acima. Não faria sentido a Galeria ter a mesma quantidade de lojas de CDs de
dez anos atrás, prolifera-se por aqui o que dá lucro hoje, é o capitalismo, é o
consumo, tem camisetas, acessórios, action figures, games... Mas esse não é o
problema, o que, talvez, incomode é que nem tudo a ver com “rock”, inclusive
pelo esforço culturalmente equivocado da administração do próprio condomínio há
anos para descaracterizá-la. Lojas que ocuparam aqui ainda estão, a meu ver, no
contexto. Tênis, roupas mais esportivas, camisetas de heróis de HQ... Não é o
ideal, mas o que é mesmo o ideal, uma vez que 140 lojas de CDs já não é viável
em nenhum lugar do planeta? E tudo isso tem a ver com o encolhimento do nosso
negócio, não tem UM culpado, nem se trata de culpa. Menos pessoas compram CDs,
portanto fabrica-se menos, logo, vende-se menos CDs. Mas os CDs continuam a ser
fabricados, especialmente e na quantidade adequada, e sob as ordens da mais
antiga lei do comércio, a de oferta e procura. Proporcionalmente e dentro de
seus domínios, os livros estão passando por esta transformação, o cinema também,
a imprensa então, nem se fala. Em poucas oportunidades converso civilizadamente
com a administração da Galeria do Rock, sempre expondo minhas ideias (nunca
ouvidas), eles sabem da nossa histórica discordância política e cultural,
sempre deixo claro e público, agora por exemplo, às vezes até frequento as
reuniões de condomínio (um saco), até conseguimos (eu e o mestre Calanca) que,
veja o absurdo, quando a imprensa viesse DENTRO de nossos estabelecimentos, não
fosse necessária a aprovação deles, sim, por absurdo que possa parecer, antes,
quando se fosse fotografar ou nos entrevistar DENTRO DA LOJA tínhamos de pedir essa
permissão. Mas a verdade tem de ser dita, toda vez que me posiciono ante as
atitudes desta administração tenho de lembrar que nos anos 80 eu tinha medo de
vir na Galeria, era degradada e perigosa, o processo de recuperação não foi
nessa gestão porém muito se fez nela, de uma forma ou de outra, e não digo da
divulgação, sempre equivocada, digo sobre as escadas rolantes funcionando,
sobre os elevadores novos, sobre a iluminação, limpeza e, principalmente,
segurança. Eu sei, não é mais que obrigação, etc, mas era obrigação antes e
ninguém fez. Porém, mais do que falha, talvez destrambelhamento ou algo que nem
imagino o que seja; não consultar quem entende do principal ramo da Galeria
(não eu, mas os anciãos daqui, temos muitos ainda), que lhe deu fama e até o
nome; não admitir nada que não seja “rock”; e não publicar declarações equivocadas
(no mínimo) quando representando a Galeria pode se voltar não só contra esta
administração como contra todos que aqui estamos. Alerta apenas.
Cada loja tem seu esquema, o nosso é esse, não é onde você
vai encontrar os produtos mais baratos, mas é onde você vai encontra-los,
sempre novos e originais, sempre com atendimento de quem gosta do que está
fazendo, de quem COMPRA CDs também, por isso nem tocamos em assuntos que também
rondam tudo o que eu disse mas não definem esta situação como a crise, e tudo o
que de mais triste ela traz.
Música é arte, não confundamos acesso e posse, uma coisa
nada tem a ver com a outra, quem compra quase sempre acessa, o contrário nem
sempre é verdadeiro. Quem compra discos quer ter os discos (CDs e LPs), colecionando-os
ou não, aliás, li estes dias uma definição de respeito: não nos intrometermos nas
escolhas dos outros.
Enquanto eu comprar CDs, vou vende-los, por razões óbvias, e
também porque Jim Morrison me disse que a música será sua única amiga até o
fim.
Valeu a atenção!
Mais um textão, e mais um post onde confundo o pessoal e o
empresarial.
PS 1: Às vezes o texto está na primeira pessoa (eu), às
vezes não pois meu irmão e sócio André Mesquita sempre está implícito quando
falo, e, ainda, em nome da Die Hard, com 4 funcionários diretos e alguns tantos
indiretos.
PS 2: A palavra “rock” está entre parêntesis pois a grande
mídia manipula e confunde, veja o cast do Rock in Rio por exemplo.
PS 3: Quando digo “disco”, me refiro aos de vinil, era como
os chamávamos, afinal é o formato, e também me refiro aos CDs, pois são discos
também, a razão social da Die Hard é AFF Discos :)
Fausto
Fausto
4 comentários:
Adoro comprar CDs na galeria do Rock... sou de SC, e sempre que vou à SP, é o meu hobby. Percebo esta necessidade que a mídia tem em acabar com os discos físicos e tornar TUDO cada vez mais descartável e sem valor. Sim... Eu Adoro, meus CDs, meus discos, meus DVDs e conheço muita gente que ainda compra e aumenta suas coleções... e sim... Eu assino o Spotify Premium e quanto mais eu conheço novas bandas por meio desta plataforma, mais eu compro CDs, porque o streaming não me contenta... apenas uso como instrumento de pesquisa... o verdadeiro prazer em ouvir musica, não consiste apenas em ouvir musica... Cresci nos anos 80 e 90, e descobri o quão prazeroso é ouvir musica, folheando um encarte de CD / disco... Lendo as letras, vendo as fotos... Ainda bem que me conserve desta maneira... porque quanto mais vejo as coisas e as pessoas ficando descartaveis, mais vejo a insatisfação das pessoas que vivem assim. Abraços...
Não sou o comprador mais assíduo da Die Hard mas, continuo comprando cds todos os meses. Minha coleção hoje possui cerca de 3.000 cds de metal. Tenho certeza que vou continuar comprando enquanto viver.
Até as fitas K7 estão começando a renascerem.. Lá fora estao lançando o "vinil com qualidade hd".
A mídia física nunca morrerá.
Vida longa a Die Hard! Respeito, comprometimento e amor pelo que faz! Vocês são a resistência, a chama que ainda queima, a camisa preta no meio da multidão! Sou consumidor e colecionador de discos e, como tal, vocês me representam e me enchem de orgulho.
Vinicius Pereira
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