sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

A Regra do Gosto

A prática é tão útil para discernir a Beleza que, antes de poder julgar qualquer obra importante, sempre será necessário examina-la cuidadosamente mais de uma vez e estuda-la sob diversos aspectos com atenção e reflexão. O primeiro exame de qualquer obra sempre se faz acompanhar de uma agitação e de uma pressa do pensamento que perturba o autêntico sentimento da Beleza: não se distingue bem a relação entre as partes; não se identifica adequadamente o verdadeiro caráter do estilo; as diversas perfeições e defeitos parecem envolvidos em uma espécie de confusão e apresentam-se à imaginação de maneira indistinta, para não dizer que existe uma espécie de Beleza, vistosa e superficial, que começa por agradar mas depois, revelando-se incompatível com uma justa expressão da razão ou da paixão, logo cansa o gosto, passando a ser rejeitada com descaso ou pelo menos considerada de valor muito inferior.
É impossível dedicar-se assiduamente à contemplação de qualquer tipo de beleza sem que sejamos obrigados a estabelecer comparações entre os diversos tipos e graus de excelência, calculando sua proporção relativa. Quem nunca teve oportunidade de confrontar os diversos gêneros de Beleza está absolutamente incapacitado de pronunciar um juízo a respeito de qualquer objeto que lhe seja apresentado. Somente através da comparação poderemos determinar os epítetos de aprovação e de crítica, aprendendo a atribuí-los no grau adequado.

A Regra do Gosto
David Hume
Ensaios Morais, políticos e literários, XXIII, c. 1745

Um comentário:

Unknown disse...
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