“Uma melodia é composta de notas isoladas que se sucedem umas às outras, em sequência, i.e., no tempo. Entretanto uma melodia não possui dimensão no tempo na medida em que a primeira nota só se torna um elemento da melodia porque ela se refere à próxima e porque se coloca numa relação definida a todas as outras notas, incluindo a última. É por esta razão que, embora possa não ser tocada durante algum tempo, a última nota já está presente na primeira como um elemento criador da melodia. E a última nota completa a melodia somente porque ouvimos a primeira nota junto com ela. As notas soam uma após outra, numa sequência temporal e, por isso, possuem uma duração real, mas a linha melódica coerente não possui dimensão no tempo; a relação das notas entre si não é um fenômeno que ocorra no tempo. A melodia não surge gradualmente no fluxo temporal, mas já existe como uma entidade completa assim que a primeira nota é tocada. De que outra forma saberíamos que uma melodia começou? As notas individuais possuem duração temporal, mas suas relações entre si, que dão significado aos sons individuais , estão fora do tempo. Uma dedução lógica também tem sua sequência, mas a premissa e a conclusão não se seguem, temporalmente, uma à outra. O processo de pensamento enquanto processo psicológico pode ter uma duração, mas as formas lógicas, como as melodias, não pertencem à dimensão temporal.”
Texto de Bela Balázs, da antologia “A Experiência do Cinema”, do Prof. Ismail Xavier (organizador), Ed. Graal, 4ª. Edição, 1983
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
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