quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Nós não nos amamos!

Vivo me questionando por que o Brasil não curte suas bandas. Nem vale ficar falando aqui da qualidade e da originalidade de muitas delas, pois é evidente. Chega a ser descabido tal questionamento. Dito isto, prossigo.
Antes de abrirmos a Die Hard, tínhamos nossa banda. Todo mundo que curte metal ou heavy metal e tendências, ou tem uma banda ou vai ter um dia, ou vai ficar frustrado se ao menos não viver lendo sobre o assunto e colecionando. E, creio, não temos só isto em comum, mas cultura em geral e outras formas de manifestação artística, além da maioria de nós sermos bilíngües mais ou menos eficientes, por necessidade, uma vez que a língua oficial deste estilo é esta. Com a nossa banda não saímos do quintal, mas serviu pra abrir a loja pensando nisto, pensando em abrir caminhos para as bandas que viriam depois. Com isso montamos um catálogo de bandas nacionais para vender aqui na loja, dando tanta ênfase quanto às demais, não deixando que a região geográfica onde elas se formam defina sua presença ou não em nosso catálogo, mas a qualidade musical. E, fundado o selo, já começamos a lançá-las, passando por momentos de maior ou menor intensidade, mas sempre lançando bandas nacionais que apostamos que vinguem. Além da qualidade, musical (composição, execução...) técnica (gravação, arte gráfica...), levamos em conta quanto tempo a banda existe com a mesma formação, e se toca em público. Passamos pelo Projeto Hamlet, onde ficamos conhecidos por acreditar nas bandas nacionais e não perder dinheiro com isso. Como produzimos shows de vez em quando, também trabalhamos com muitas bandas tupiniquins ao vivo. Mas somos um grãozinho de poeira, ainda que persistentes até no nome. Há um preconceito enorme contra nossas bandas, percebemos isto tanto como varejistas como selo e produção de shows.
Excetuando-se as já manjadas honrosas exceções Sepultura e Angra, nesta ordem, sou incapaz de citar mais uma. E não vale ocasiões pontuais como o Viper no Japão, ou ainda as micro tours de algumas bandas que se apresentam em bares minúsculos e são ignoradas tanto pelo público quanto pela mídia de lá, algumas chegando a bancar toda a tour. Não que eu ache que isto seja errado, cada um que tenha sua própria opinião, mas está longe de ser um reconhecimento a estas bandas. São estratégias criativas e radicais, mas sem sucesso. E esta é a palavra exata, infelizmente.
Conheço colecionadores internacionais que adoram bandas brasileiras, que trocam CDs com pessoas daqui, que compram conosco, e que são fanáticos, literalmente. Sabem da qualidade de nossas bandas, mas são também exceções, pulverizadas aqui e ali.
Claro que existem centenas, milhares de bandas sem a menor criatividade, algumas delas até com dinheiro, mas são a xerox da xerox da xerox, ou seja, já não têm o brilho de uma banda original, nem aguça a curiosidade para irmos atrás de informações ou de procurar shows, mas isto não está restrito ao Brasil. Falando em shows então, depois da moda das covers, as mais excêntricas, nada mais existiu. Antes existiam anda alguns shows originais pipocando aqui e ali, mas se foram... Ficamos todos saudosos aguardando para assistir às nossas bandas ao vivo de novo, mas está cada vez mais raro e difícil vermos isto. De novo, sim, as exceções estão por aí, mas não trato delas aqui. Houve uma época em que abrir shows gringos era a glória, nós mesmos enquanto produtores e mesmo enquanto selo, viabilizamos muitos shows internacionais para muitas bandas nacionais abrirem, na época rolou em um determinado sentido, as pessoas conheciam as bandas e, talvez, vendia-se um pouco mais de CDs, mas também não saia muito disto, nunca saiu. Diga-se, muitas bandas têm de arcar com as despesas todas, no popular, pagar pra tocar. De novo aqui não cabe nenhum juízo de valor, mas duvido que tenha valido a pena pra alguém, no sentido agora de retorno do investimento. Pra nós nunca valeu. Nestas aberturas de show, o som disponível para a banda nacional é pior, o tempo geralmente é cortado, a infra-estrutura não as contempla. Ou seja, praticamente boicote.
Uma vez dito isto, vamos às divagações, mesmo que malucas, mas talvez tenhamos, após a conclusão deste texto, ao menos algumas idéias, ou algo que o valha para começar, ao menos começar a entender.
Reza a lenda que, na década de 70, a banda carioca “Acidente”, por baixa vendagem, seu líder, Paulo Malária, reuniu os LPs numa praça e botou fogo, em protesto. Mesmo não sendo representativa da época, só pra ficar com um exemplo a fundamental “Peso”, já era um prenúncio... Nos anos 80 o foco foi embora de vez, a Rede Globo meteu o bedelho com o Rock in Rio e até Gilberto Gil e Ney Matogrosso era rock. Mesmo assim esta década começou com as independentes e maravilhosas, exemplo “Patrulha do Espaço”, mas desmoronaram nos comerciais Paralamas do Sucesso, Ultraje a Rigor e coisas piores. Mesmo os pontuais pólos geográficos como o “Lira Paulistana” e o selo “Baratos & Afins” de São Paulo, foi pouco. Nos últimos 20 anos há uma batalha infernal para a manutenção da dita “cena", e coloque batalha nisso. Os anos foram passando e já estamos pra iniciar mais uma década do Século XXI, e nada...
Fazer sucesso, ser reconhecida, ter público para shows, vender CDs, ter milhões de acessos no Youtube ou Myspace não é tudo o que uma banda quer, mas é um excelente começo. Ter o passaporte carimbado pelos gringos como algumas bandas e músicos brasileiros têm, é legal enquanto reconhecimento (e retorno) além das fronteiras, mas pode ser vergonhoso se esperarmos a aprovação destes gringos. Só pra citar, para que não pensemos, no fundo de nossos pensamentos, em algumas sinapses escondidas de nosso consciente que “se os gringos gostam é legal”. Isto seria o absurdo total da perda da auto-estima.
Na 29a Bienal Internacional de São Paulo, está em exposição uma instalação do americano Jimmie Durham, ”Bureau for Research Into Brazilian Normality (Centro de Pesquisa da Normalidade Brasileira)”. Nela, o artista vive um tempo em São Paulo, e tenta, como um espelho, nos mostrar como ele (gringo) nos vê, através de atitudes e manifestações culturais nossas tão arraigadas que não percebemos a loucura de certas coisas absurdas que fazemos. Em exposição vários santinhos de políticos brasileiros com nomes nada “brasileiros”, como Feldman e afins; o relato de uma visita um Shopping onde, segundo as palavras do artista “não têm nada de que preciso”, e frases como “atravessar a rua em São Paulo pode ser perigoso”... Uma das frases mais impressionantes é: “muitos brasileiros descendentes de europeus sentem que foram colonizados por Portugal. Eles não conseguem perceber que são os próprios colonizadores.” Por aí vemos que não nos enxergamos direito enquanto povo, enquanto nação. Dizemos que a bossa nova é nossa, pois a mídia repete isto o tempo todo, mas fora os estudiosos do assunto, no que, realmente, isto importa? Há bandas de bossa nova americanas excelentes, que eles nem chamam de bossa nova e nem nós reparamos, pra citar uma, “Style Council”. Os brasileiros, todos sabemos, são os índios... Mas, e os índios? Segundo o livro “Uma Breve História do Mundo”, de Greffrey Blainey, os chineses, por aqueles caminhos gelados que se formam entre as ilhas e continentes chegaram aqui (e em muitos outros lugares) há muitos e muitos séculos, logo, seriam os brasileiros, na verdade, chineses? É ou não é uma loucura esta história de dividir a cultura e limitá-la geograficamente? Só estou querendo chegar no ponto de onde se possa perceber a insanidade que é ter preconceito de uma banda apenas por ela ser brasileira. Existe uma banda iraquiana maravilhosa, por tudo o que representa para aquele país, “Acrassicauda”, hoje lutando pra viver na Turquia. Tudo o que representa, inclui, obviamente, a qualidade do som deles, claro. Poderia falar de dezenas de bandas legais de lugares inusitados, mas também não é o caso aqui, lugar mais inusitado e excêntrico que o Brasil neste contexto, não há. Aqui é o país do samba, do futebol, bla bla bla...
Quando da colonização, tudo o que chegava aqui era importado, obviamente. Deve ter se iniciado aí a sensação, enraizada em nossa cultura até hoje, de que o que precisamos vem de “fora”. Na era pós-revolução industrial esta sensação deve ter se aprofundado, as fábricas aqui eram bem inferiores, ouço dizer na minha família até hoje que os pregos não entravam na madeira, simplesmente se entortavam. O tempo o passou, o parque industrial deles foi só melhorando e o nosso, por melhor que esteja hoje, com alguns itens em pé de igualdade e uns até melhores, mas o deles sempre na frente, isto é um fato. Até hoje o CD americano é melhor que o nosso. Poderíamos ter uma história como a do Japão, que “melhoraram” com o tempo, e depois de muita luta (literalmente), ficaram bem superiores aos europeus e americanos, mas de novo caímos na exceção... O importante deste parágrafo é constatar, e aí não é somente uma sensação enraizada, que o importado, neste caso da industrialização, é mesmo melhor. Mas estamos falando de bandas, de músicos, de gente. Não existe “gente melhor”. Tudo bem não estarmos no nível de recebermos algum prêmio Nobel técnico, pela panelinha de quem concede o prêmio, claro, não somos trouxas, mas também pelo fato de não investirmos em universidades de qualidade, de não valorizarmos nossos cientistas... Mas talento artístico???
Como tocado de leve no assunto acima, não é só no rock e no metal e tendências que esta espécie de preconceito acontece. Se observarmos que a arte é representação, raciocinemos: cinema, literatura, artes plásticas, etc... e.. música, claro, sempre representação, então podemos pressupor que nós, como povo, como nação, não gostamos que nossos “iguais” nos representem. Seria isto? Se não for, talvez tenha chegado perto... Cabem aos sociólogos, aos antropólogos, e, dentro de nossas individuais cabecinhas, até aos psicólogos, tentarem explicar. Se é que há como explicar que não gostamos de nós mesmos. Minha opinião, despretensiosa, é que não gostamos de nós quanto à expressividade. Não nos amamos!

Vincent Morrison

terça-feira, 5 de outubro de 2010

O CD VAI ACABAR?

Sempre nos questionam aqui como estamos sobrevivendo, uma vez que “ainda” vendemos CDs e DVDs. A resposta, que é a mais pura verdade, por isso a única que temos, é que nunca, desde nossa inauguração em 1996, tivemos curvas descendentes expressivas, excetuando-se a sazonalidade, obviamente. Ou seja, crescemos sempre, às vezes mais, às vezes menos, mas sempre.
Como estamos fisicamente na Galeria do Rock, temos de constatar o fato notório que a maioria das lojas daqui sumiram, sobramos algumas poucas, mas também é notório que as que sumiram, em sua grande maioria, não focavam nem no estilo musical que vendiam, apesar do nome desta Galeria ou, pior, nem no cliente, vendendo usados porcaria, piratas, desatualização quanto aos lançamentos, despreocupação quanto ao acervo, etc. Isto ajudou, e muito, na descaracterização ainda em andamento da Galeria do Rock, dando espaço para as, nem por isso menos “mal vindas”, lojas de acessórios, roupas, estúdios de tatuagens, etc...
Sabemos que quem compra pirataria não se incomoda com qualidade, logo, é uma questão de consciência, ou falta de. Não se sente lesado, pois a pirataria é uma doença que atinge diretamente os criadores, que são os músicos, cineastas, empresas que investem no design de calçados e, etc, e todos os envolvidos na criação, viabilidade, materialização, registro, transporte, etc destes materiais ... culminando na pirataria que beneficia apenas a nós sabemos quem, incluindo a máfia, a parte do estado corrupta que faz vistas grossas, e seus coligados.
Seguindo com os prováveis causadores do improvável desaparecimento do CD, o download ilegal, que é irmão gêmeo da pirataria, pois causa as mesmas conseqüências, mas beneficia um número ainda menor de gente, pois não há suporte material, e em nada envolvidos com música ou arte em geral, como os pirateiros. Quem apenas baixa músicas e filmes ilegais, não só padece do mesmo mal da pirataria, mas geralmente são os mesmos.
Tudo o que dissemos até agora são fatores que poderiam nos prejudicar, mas isso não acontece, e não sabemos exatamente os motivos, mas temos um bom palpite: não vendemos piratas, nem mesmo usados, temos compromisso total com a qualidade do produto e nos preocupamos com tudo o que envolve isto, ou seja: atendimento, agilidade e qualidade no envio pelos Correios, qualidade das embalagens, documentação, acervo, rapidez e variedade dos lançamentos, segurança, confiabilidade e garantia TOTAIS. Nosso cliente jamais perdeu ou perderá nada conosco, nem mesmo tempo ou paciência.
O que notamos é que houve um momento em que todos pensamos que os MP3 seriam um substituto mágico e quase grátis para os CDs dispendiosos e ocupadores de lugar, enchemos nossos discos rígidos deles, acumulamos discografias e mais discografias e... e... ficam lá, dificilmente ouvimos do PC ou dos portáteis, e sentimos uma saudade enorme dos encartes, do suporte físico da música, do verdadeiro vínculo entre nós e o músico, da certeza que parte de nosso esforço (dinheiro) chegará para a banda e todos os envolvidos para que os CDs cheguem até nós. E isto pode estar causando um “revival” dos CDs, pois há um aumento significativo nas vendas, um aumento também na quantidade de lançamentos, uma procura notadamente maior por novidades, incluindo a venda de revistas e periféricos... Os MP3 de hoje não passam das K7 de ontem...
Ah, e nossa opinião, embasada pelos parágrafos acima é que: Não, o CD não vai acabar, ao menos tão cedo, pelo contrário, voltou o vinil, e surgiu o blu-ray. Nos baseamos também por nós mesmos, todos aqui somos colecionadores, juntando nossos interesses, a Die Hard, podemos dizer assim, coleciona livros, fascículos, CDs, DVDs e vinil.