segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A FUNÇÃO SOCIAL DA MÚSICA

A função social da música era a de produzir tais efeitos (sobre seres humanos) e não a de representar uma realidade. Como observa Hans Heinsler, certos ritmos, seqüências de tons e imagens sonoras passíveis de definição provocam “associações automáticas”. Ainda hoje, grande parte dos efeitos da música são obtidos através deste tipo de “associações automáticas” (marchas militares, marchas fúnebres, ritmos de dança, etc.) e essas associações ensejam a participação direta mesmo de ouvintes despreparados. Este poder da música de produzir emoções coletivas, de igualar emocionalmente as pessoas por algum tempo, tem sido particularmente útil às organizações militares e religiosas. De todas as artes, a música é que dispõe e maior capacidade de nublar a inteligência, de embriagar, de criar uma obediência cega e, naturalmente, de provocar ânsias de morrer.
Todas as instituições religiosas – e a Igreja Católica Romana mais do que qualquer outra – têm sistematicamente explorado este poder peculiar à música. A Igreja Católica, no princípio da Idade Média, não pedia à música que ela fosse “bela,” muito pelo contrário. A função da música, naquela época, era a de levar os crentes a um estado de contrição e drástica humildade, apagando qualquer traço de individualidade neles e diluindo-os numa coletividade submissa.

A Necessidade da Arte
Ernest Fischer
Ed. Zahar, 1983

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