segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

RAMONES - LEAVE HOME

Quando o leitor(a) amigo(a) estiver lendo esse humilde texto, pensará em Ramones como sendo Punk Rock. Mas nos dias de hoje os Ramones estão em outra categoria maior, a do Classic Rock.

Títulos revolucionários como o primeiro trabalho “Ramones” (1976), e “Rocket To Russia” (1977) escreveram capítulos importantes na história do rock. Mas entre esses dois trabalhos encontramos um subestimado “Leave Home”, objeto desse texto.

“Leave Home” é um termo utilizado para expressar a idéia de independência, sair de casa, constituir sua própria família, etc. A partir desse momento a banda deixava de ser um fenômeno local relacionado ao CBGB para conquistar o mundo. E foram a partir desse ponto, 20 anos de turnês mundiais quase ininterruptas. Os Ramones ganharam o mundo. Mas as coisas não eram fáceis e embora os críticos já tivessem se rendido ao potencial da banda, as rádios não estavam interessadas em seu som. Isso não impediu de “Leave Home” ter um orçamento maior em sua produção e demonstrar maturidade em termos de composição e solidificação da personalidade apresentada no trabalho anterior.

A banda ganhou então uma van da Sire Records, e a equipe de apoio se triplicou, mostrando um crescente profissionalismo.

Danny Fields era então o empresário dos Ramones enquanto Arturo Vega desenhava o logotipo da águia americana que aparece na contra capa do disco.

Com o jeito Ramones de ser as rádios, gravadoras e até mesmo alguns fãs não captavam as mensagens no subtexto das letras. Exemplo é a “Glad To See You Go” que abre o álbum sem deixar dúvidas sobre a intenção direta da banda. Porém a pegada alegre com referência a Charles Manson fez com que a WNEW se recusasse a tocá-la. Essa faixa, na verdade, fala de Connie, uma ex- namorada de Dee Dee Ramone. O paradoxo “Temas Horríveis / Melodias Alegres” tornou se um problema segundo Tommy Ramone. No caso de “Gimme Gimme Shock Treatment” temos uma levada divertida e honesta no tratamento da saúde mental. O som dos Ramones buscava resgatar a simplicidade do rock básico, eliminando o desnecessário, como solos, e mantendo a estrutura básica dos acordes.

Não há grandes efeitos de distorção ou produções exageradas. No caso de Johnny Ramone e sua guitarra Mosrite branca, há velocidade e músculos apenas. Sendo assim, como foi feito no disco de estréia, os Ramones escolheram “Califórnia Sun” do Rivieras para coverizar. A influência do rock da primeira metade dos 60´s e a surf music são claramente percebidas em toda a carreira da banda, mas “Califórnia Sun” parece mesmo ser uma música dos Ramones, tamanha a identidade imprimida nessa releitura. Como dizia Joey na época: - “Todos nós somos muito fãs de surf music.” Então a escolha dessa música não poderia ser mais apropriada. Quem quiser conferir a versão original basta procurar no youtube o vídeo com o seguinte título: The Rivieras - California Sun. Outro ponto alto é a faixa “Pinhead”. O pessoal dos Ramones realmente se identificou com o filme Freaks de 1932 do diretor Tod Browning e escreveu “Pinhead”.

Essa trilha é uma declaração de que os Ramones eram os freaks, e ninguém os queria. Nem as rádios e nem as gravadoras. Eram diferentes e mal compreendidos. “Pinhead” apresenta a saudação Gabba Gabba Hey, que na verdade foi retirada e modificada da cena do banquete do filme de Browning aonde a frase “We accept her! We accept her! One of us! One of us! Gooble-gobble, gooble-gobble!" recebia entonação com bastante entusiasmo por parte dos freaks. Se o leitor(a) amigo(a) tiver curiosidade, procure no youtube o vídeo com o título Gooble Gooble, mas aviso que as cenas podem ser chocantes para pessoas mais sensíveis. As faixas citadas já seriam motivos mais que suficientes para colocar Leave Home na lista de audição do apreciador de classic rock mais entusiasmado. Mas ainda há “Carbona Not Glue”, uma faixa polêmica que teve que ser retirada das primeiras edições em vinil. Carbona foi substituída nos EUA por “Sheena Is a Punk Rocker”, enquando na Inglaterra teve em seu lugar a faixa “Babysitter”. Isso porque foi necessário evitar um possível processo porque Carbona é uma marca corporativa. Outro ponto interessante é que no caso do vinil inglês “Babysitter” não aparece nos créditos da contra-capa e nem no encarte. Há colecionadores que afirmam que a versão em vinil inglesa é mais rara que a contendo Carbona. Logo em seguida um lote de vinis com “Sheena Is A Punk Rocker” é lançado confundindo todo mundo pois essa mesma faixa, está presente no “Rocket To Rusia”.

Isso ocorreu porque a Sire Records foi comprada pela Waner Bros. Records que lançou “Sheena” no Rocket. Há quem diga que existem diferenças de mixagem entre as duas versões de “Sheena”. Caso seja verdade, a diferença é mínima realmente.

Lançado em janeiro de 1977, “Leave Home” é um dos maiores e mais subestimados trabalhos da banda de Forest Hill, no Queens. A essência punk rock nesse trabalho é brutalmente honesta e sua sonoridade é cativante e cheia de energia e urgência. Indispensável para quem ama e aprecia classic rock.

Píer Carllo Braghirolli
pcl-brag@uol.com.br


OBRIGADO PIER :)

Um comentário:

Micael Machado disse...

É complicado para mim dizer qual dos três primeiros discos da minha banda favorita é o melhor, pois penso que os três estão em um mesmo patamar de qualidade. Mas concordo plenamente que Leave Home é o mais subestimado, embora seja tão bom quanto os outros dois!

Parabéns pelo texto!