quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

PROBLEMAS DO COMÉRCIO FONOGRÁFICO NO VAREJO E SUGESTÕES PARA RESOLVÊ-LOS (DO PONTO DE VISTA DA DIE HARD)

Enfrentamos alguns problemas sistêmicos, um círculo vicioso talvez alimentado pela nossa desordem política e social. O comércio precisa de regras e leis que o garantam; naturais, éticas, fiscais, jurídicas, comportamentais, culturais. Estes problemas estão se transformando em regras, inversão surreal agravada pela inércia, deixamos que tudo piore até o extremo, ao invés de agir, aguardamos. Em sociedades mais desenvolvidas estes problemas são a exceção, temos fornecedores de diversos países que nos comprovam isso diariamente. Nos animamos à essa exposição pois colecionadores do nosso estilo musical têm interesse em detalhes do negócio, lemos as fichas técnicas dos álbuns, sabemos de decisões contratuais das bandas, da vida dos músicos até os mínimos detalhes.
Todos estamos nos adaptando à digitalização, mas algumas das nossas gravadoras ainda estão com dificuldades básicas, principalmente (mas não só) as multinacionais milionárias que antes mandavam em tudo, e hoje esbanjam burrice e surdez, mas não perdem a arrogância. Produtos caros sem qualidade, lançamentos atrasados -quando lançam-, recusa de pedidos por motivos administrativos, atraso nas entregas, erro nos pedidos trocando títulos, erro nas quantidades, não enviam o que pedimos mas enviam o que não pedimos, negligenciam a troca de produtos defeituosos, etc. Isso gera prejuízo, insegurança e stress. No mínimo, retrabalho.
As lojas também estão na luta pela adaptação aos tempos digitais. As que tratavam seus produtos como lixo, as que vendiam piratas e usados com defeito e as descompromissadas com o cliente foram as primeiras a sumirem. Darwin. As que sobraram, somos uma delas, passam por outros problemas, e não são os financeiros, não é o assunto aqui.
Começando por gravadoras e distribuidoras que também vendem no varejo. Elas podem vender ao cliente por um preço próximo ao de atacado, as lojas não conseguem concorrer. Sites de venda de revistas também entram nessa, comércio não deveria ser assunto delas. Inicialmente é vantagem pro cliente, mas racha regras ancestrais comprometendo o negócio como o conhecemos. Lojas especializadas se adaptam, mesmo crendo ser um atropelo à ética e à falta de regulação. Concorrência é a palavra chave do comércio, justamente estimulada pela imprensa e pelo Estado. As lojas que sobraram certamente não a temem, afinal concorrer é se fortificar, se atualizar, se ADAPTAR. Darwin de novo. Mas concorrer assim é desleal. O cliente saber disto já é o suficiente para nós, para que não sejamos comparados desconsiderando isso.
Mais do que concorrência desleal é o comércio informal. Sabemos que as pessoas precisam sobreviver, e não nos cabe julgar, mas fato é que as redes sociais estão inundadas de pessoas cuja ocupação principal é esta, e desconfiamos que trabalham com produtos adquiridos das mesmas gravadoras que vendem para as lojas formais (já não bastava venderem também no varejo), esta desconfiança vem do preço que praticam. Falamos com a autoridade de quem está estabelecido formalmente desde o primeiro dia de nossa existência, e de também já ter passado pelo desemprego. Mas aceitamos as regras do jogo, passamos pelas dificuldades de se empreender formalmente no Brasil, cumprimos todas as exigências legais, fiscais e jurídicas. E geramos empregos (no plural). A concorrência ainda continua boa mesmo assim, por enquanto ainda estimula. Mas continuamos a pedir que, ao sermos comparados, que se considere também isto.
Concorrer sem ética e de forma desleal ainda não derrubou todas as lojas, mas a desonestidade talvez consiga. Sobre a pirataria agora. Antes, porém, separemos os piratas dos bootlegs. Piratas são cópias inferiores de CDs oficiais, geralmente se parecem (pouco, convenhamos) com os originais, mas sempre inferiores; e bootlegs são produtos não oficiais mas de extrema importância cultural, contém ensaios, entrevistas, shows e outtakes, às vezes de baixa qualidade sonora, mas sempre prensados (não são cópias feitas em casa), a maioria com a arte refinadíssima, dando uma lição no que poderia estar fazendo a indústria. O mercado está invadido, por piratas “russos”, não confundir com russos originais, que tem preço e qualidade dos europeus (obviamente) e difíceis de se encontrar no Brasil. Se encontrar um CD “russo” feio e barato, é pirata e, para o nosso desespero, os piratas nacionais retornaram ao mercado. O maior dos problemas é a gravadora que detém os direitos não se animar a lançar o original. Um problema relacionado é que algumas lojas não avisam o cliente. A decisão sobre a compra é individual, soberana, mesmo que prejudique músicos, gravadora, lojas e que comprometa toda a cadeia produtiva, mas que se saiba que está comprando um pirata. Sempre usamos uma frase de John Ruskin: “Dificilmente existirá alguma coisa nesse mundo que alguém não possa fazer um pouco pior e vender um pouco mais barato, e as pessoas que considerem somente preço são as merecidas vítimas.” Nós não vendemos piratas, só originais e novos.
Muita gente pensa que a música digital afeta o mercado (classic rock e heavy metal), isso não é verdade, a música digital foi um ganho, mas são de qualidade inferior aos discos físicos (LP, CD, DVD...), basta pesquisar, só pra citar uma fonte, o livro de nome revelador “Como a Música Ficou Grátis”, de Witt Stephen. Não passam de uma espécie de rádio com maior liberdade de escolha. Música digital nada tem a ver com comprar CD, LP e DVD, que, além da qualidade imensamente superior, tem a arte, e é um investimento dos mais lucrativos que existem. Nos proporcionam um prazer que só quem compra, quem gosta de colecionar, é que sabe, nosso último anúncio tem este tema. De valor inestimável é a consciência, a certeza de que comprando um produto oficial, parte do seu dinheiro investido vai pros seus músicos preferidos, pros estúdios, técnicos e artistas que o produziram, pra estrutura toda, gravadora, loja, transporte, e muitos empregos indiretos, e para os impostos. Estas são as consequências e as vantagens de se seguir as regras que citamos no início deste texto. E não vale dizer aqui que a informalidade é um calote no mal e corrupto governo, esse é outro assunto, para resolver este problema há de se substituir este por um governo melhor, sonegar não é, definitivamente, e nunca foi a solução.
No fim das contas o mercado sempre se reequilibra, em qualquer setor, preços fora da realidade não se viabilizam, empresas sem visão do próprio mercado somem, acaba vencendo o produto e o serviço que nós, como clientes, privilegiamos, por isso, pretendemos com este texto alertar sobre estes vícios para melhorar o nosso sistema, não é uma reclamação vazia ou lavagem de roupa em público, é um assunto sério. Quem não está feliz com o que faz, faça outra coisa. Se continuamos no negócio é porque ainda é viável, nos orgulhamos de nunca termos parado de crescer. Esta é uma atividade feita com amor. Não somos e nunca seremos uma loja de ofertas, não temos como privilegiar preços. Nosso sistema é de qualidade, operamos na formalidade e apenas com produtos originais novos e documentados, atendimento profissional cortês personalizado, mecanismos eficientes e seguros de venda, rapidez nas vendas à distância, serviço de pós-venda eficiente, ampliação constante do catálogo de clássicos, novidades quase sempre em primeira mão, muito material exclusivo, serviços de encomenda e avisos, pré-venda, contatos com bandas e pequenos selos... Isso tem um custo, é o resultado de nosso trabalho, empenho e dedicação. Somos éticos e respeitosos, porque AMAMOS o que fazemos, somos colecionadores e também compramos nossos produtos. Consideramos nossos clientes como parte da família, se você que está lendo isso for nosso cliente, sabe que é real. Nossos profissionais são competentes, se recolocariam no mercado de forma digna imediatamente, os gerentes e proprietários da Die Hard têm outros trabalhos há muitos anos, não dependem mais apenas da Die Hard, e isto está sendo dito sem nenhuma arrogância, apenas pra reforçar que preferimos esta luta, luta contra a informalidade, deslealdade e desonestidade. Uma luta pra lá de agradável, trabalhar ouvindo metal ou classic rock o tempo todo é um sonho realizado, e se você já veio na loja sabe disso, SEMPRE estamos ouvindo som com prazer, SEMPRE.
Finalmente as sugestões. Duas. A primeira é nos conscientizarmos sobre o modo como nós, cada um de nós, tratamos do exposto até aqui, a atitude de cada um, individualmente. Sem ter de dar satisfação a ninguém. Consciência. Só isso. A segunda é não aceitar menos. Exija competência, rapidez, tratamento respeitoso, pós-venda rápida e profissional sem cara feia, ambiente seguro, cortês, limpo e organizado, respostas claras, rápidas e satisfatórias, exija um site competente e atualizado, exija não só o que está na lei, isso tem de ser cumprido por todos nós de qualquer forma, exija mais, que tenha os produtos que você quer o mais rápido possível, catálogo extenso e saboroso, o produto intacto, bem embalado, por final, se o produto que comprou pode melhorar, não hesite em entrar em contato com a gravadora, ligue, envie e-mail e exija resposta, não compartilhe com a tosqueira geral que está ameaçando tudo neste país e que ameaça também, e seriamente, um dos seus prazeres que é o CD, LP, DVD original intacto e seguro. Exija justiça. Você não vai ser agradável, é como este texto aqui, não é pra ser agradável, é pra conscientizar, pra mudar. Em outros setores isto é normal, sejam grandes associações como a dos bancos ou das montadoras de automóveis, mas também de vendedores ambulantes e sindicatos sérios em geral. Precisamos conhecer o inimigo para combate-lo.
Boas festas e feliz 2018. Com esperanças!




Um comentário:

Unknown disse...

Excelente texto! Como consumidor também precisamos fazer nossa parte. E quando vemos uma loja com esse pensamento e, valorização do cliente acredito que ainda temos esperança.